#

1 comentários
"O tic-tac do meu relógio me faz despertar. Lentamente, sem abrir os olhos, tento dar-me conta de onde raios estou. Meu corpo parece ter percorrido quilômetros, o travesseiro descansa meus olhos inchados e meus neurônios dilacerados. Meu corpo continua em repouso, e a cada movimento, sinto dor, como se qualquer movimento que fizesse ocasionasse a perda de um membro - portanto fico quieta, de lado, olhando para a parede, tentando voltar ao sono.
Mas ainda com a pergunta pairando no ar: O que aconteceu?

Escuto uma movimentação de porta abrindo lentamente mas não a escuto fechar; é como se apenas a encostassem. Sinto uma mão em meu ombro e devagar, viro-me para o outro lado. Seus olhos são esverdeados, seus cabelos, curtos e castanhos; és baixa e sua pele, alva. Seus lábios curtos sorriem de soslaio em seu rosto meio triangular.
- Está bem?
Sem forças para responder, confirmo de leve com a cabeça mas ainda me sinto estranha. Como se fosse intimidada.
- É uma pena, - suspira. - acho que minha dose foi muito fraca.
De seu sorriso confortador sai um sorriso presunçoso e então dou-me conta de quem é aquela pessoa.
- Demorou para me reconhecer? - ri irônica. - Não se preocupe, tomarei mais cuidado para que da próxima, você não reconheça mais ninguém... e que ninguém mais a reconheça!
- Sai daqui! - grito com um fio de voz, aterrorizada com a visita inesperada. Mas meu pavor é tanto que não consigo chamar enfermaria ou médicos. - Sai!
- O que acontece? - a porta novamente se abre e dessa vez, entra um homem relativamente alto, sua pele, morena. Seus olhos castanhos e seus cabelos curtos também me assustam. - Ah, olá! - sorri para mim. - O que está fazendo acordada e aqui? Achei que fosse apenas te encontrar em uma casa de repouso para loucos!
Ele e a moça de olhos claros desatam a rir.
Trêmula, só consigo me recostar na cama, aflita.
- Estava justamente contando a ela que acho que ainda fui muito boazinha. Devia ter exagerado mais, sentido mais a adrenalina! - conta com fervor. - Mas há sempre uma próxima vez, não é, meu amor?
- Eu vou sair daqui! E vocês nunca mais vão interferir na minha vida, nunca mais!
- Claro que não vamos mais interferir na sua vida... porque vamos detonar com ela antes que você pense nisso novamente!

As lágrimas insistem em cair de meus olhos inchados e doloridos, enquanto ambos continuam falando, mostrando como tudo será maravilhoso quando eu sumir de vez.
Meu coração bate tão forte que não encontro mais forças, e suas vozes vão ficando cada vez mais abafadas por conta do barulho.
Sinto meus olhos fechando lentamente. O que eu faço...

(continua)

Esperança #01

0 comentários
"Eis que ela ainda estava presente, a Depressão.
Ela parecia não querer ir embora nunca, que diabos!
Parecia que quanto mais eu implorasse, mais a Depressão ria desdenhosa, cruzando os longos braços ao dizer que eu poderia me tacar de uma ponte, que ela estaria sempre ali.

Irritada, taquei um vaso contra a sua escuridão.
A Escuridão da minha cabeça, da minha mente, da minha vida.

Mas algo aconteceu...

Eis que no meio do negro, vi um pontinho de luz, solitário, perdido.
Brilhava feito diamante e parecia sorrir em minha direção.

Eu, com os olhos inchados de tanto chorar, a voz rouca de tanto gritar, senti-me impelida a ir até ela...
Devagar, me aproximei e que coisa, era um pontinho bem pequenino no meio da Escuridão!

- É, você, você e você! - disse uma voz divertida. Olhei para os lados confusa. - Sentiu minha falta?
- Eu? Quem é você?
- Eu? - ela deu uma risadinha. - Oras, eu sou eu! Bem, na verdade eu sou você. Resolvi aparecer de repente, depois que você recebeu aquele cumprimento.
- Como...?
- Sou a Esperança, sua tolinha! - continuou rindo. - Você ficou tanto tempo nessa escuridão toda que até esqueceu de mim... - fez voz de choro. Continuei calada. - Se bem que... não importa! Vim te mostrar que nem tudo está perdido! Sua Ira fez você tacar aquele vaso e ele me acordou de um momento "estou hibernando"! Só que eu tenho que acordar todo mundo agora e estou morrendo de preguiça... Preciso da sua ajuda.
- Ajuda? Mas para que?
- Para acordar todas as outras pequenas Esperanças!
- Mas eu não quero - dei de ombros. - Estou bem assim... ninguém se importa!
- Eu me importo! - ela inflou de Revolta e cutucou um outro ponto na escuridão. - Esperança, ei, você! Acorda!
A outra acordou, iluminando mais um tiquinho da Escuridão.
- Ela não quer mais acreditar em nós! Não é um absurdo?
- Hein? Não acredita? - o outro Pontinho Brilhoso revoltou-se. Acho que era a Esperança Convencida. - Olha, meu bem, você pode até não querer acreditar, mas estou pouco me lixando para isso! Nem que eu precise acordar todo mundo, de uma em uma, você vai voltar a acreditar em nós!

E assim a Escuridão causada pela minha Depressão deu lugar ao Brilho da minha Esperança, agora renovada."

(Aimee Lee)

Memórias #02

0 comentários
"Um borrão.
Era como se tudo passasse em menos de um minuto, toda aquela minha vida desregrada.
Minhas notas altas na escola, meus namorados estranhos, meus amigos malucos.
Minhas saídas regadas a álcool, minhas falhas lembranças de ressaca.
Daqueles a quem jurei meu amor eterno... ou que foram grandes amores.

Um minuto.

Não deu nem tempo para respirar, sequer colocar a cabeça no lugar e...

Um minuto.

Um borrão.

Uma lágrima escorreu por minha face antes de eu fechar os olhos.

Um minuto.

É, havia sido uma boa vida, afinal de contas.
Chorei, sorri, curti, bebi.
Fiz amigos, tive namorados, fiquei noiva.
Foi boa...

Um minuto.

Ao longe escuto uma voz, mas não entendo o que dizem.

Volta!

Um minuto!

Volta!

Um minuto!

Eu mandei você voltar, diacho!

Abri os olhos lentamente, deparando-me com aquela parede muito clara e algo enfaixando minha cabeça.

"Volta, diacho!

Ninguém te chamou ainda, volta e aprenda a viver decentemente!

Te dei mais uma chance. É pegar ou largar.

Ou você vive corretamente ou não haverá próxima vez!"

(Aimee Lee)

- Dedicado a Deise Duarte, que, infelizmente, não teve uma segunda chance...

Ausência #01

0 comentários
"Você segurou minha mão em momentos difíceis.
E a segurou em momentos bons também.
A realidade é que, por pior que fosse o problema, o momento, ter você ao meu lado me ajudava a recuperar as esperanças.

Olhar para o lado e ver o vazio que a sua não-presença me ocasiona dói tanto que às vezes acho que não vou aguentar.
Outras, falo para mim que é apenas uma fase, um estado de espírito, que você sempre estará comigo.
Mas quando dou por mim, estou lacrimejando, me perguntando por que raios você não está aqui e por que o destino foi tão cruel em tirar-te de perto de mim.

Por que não podemos voltar aos momentos de felicidade mútua, onde você era eu e eu era você, em um só coração, um só sentimento?

Por que você se foi?

Às vezes acho que as explicações verbais não são nada comparadas às explicações do coração.

Tudo me lembra você, de uma fotografia ao piso do chão.
Lembro-me de quando tiramos aquela foto.
Lembro-me de nós dois no chão, as cabeças encostadas, em uma tarde de verão. O sol brilhava no céu e nós ouvíamos música juntos, tentando voltar ao passado quando pegamos o encarte para cantarmos juntos.

Quero lembrar-me de você como uma tarde quente de verão.
Quente, cujo calor emana facilmente, atraente.

Só que o Verão de repente deu lugar ao congelante Inverno, com seus ventos frios.
Meu armário não estava preparado para tamanho frio - onde está você?"

(Aimee Lee)

Memórias #01

0 comentários
"Era meio da tarde quando elas começaram a vir.
No início, como uma breve lembrança gostosa, enquanto sua cabeça repousava em meu colo, naquela chuvosa tarde.
Não precisava fechar os olhos, estava tudo ali: a indiferença, a possível amizade, o coração batendo forte.

Lancei a ele um breve olhar, esperando que retribuísse, mas estava escuro, seus olhos estavam fechados.
Contentei-me em mantê-las para mim.

Lembro-me de você tirando a camiseta e entrando no mar gelado, tarde da noite.
De minha preocupação - até hoje não a entendo, se não éramos amigos nem colegas!
De você me pedindo precaução e de todo o resto.

Novamente olhei para você e dessa vez, perguntou-me a razão de meu sorriso misterioso.
Não soube responder. Lutei bravamente contra as lágrimas.

As coisas mudam. As pessoas mudam.
Os sentimentos mudam.
Nesse monte de mudanças, me pergunto: o que aconteceu?
O que houve com o "nós" que deveria estar aqui?
Onde está o "nós" que fazia de você e de mim um só?

Resolveu tirar férias em algum lugar do Pacífico e por lá resolveu ficar.
Inclusive, chamou a Boa Lembrança e enxotou a Saudade para cá.

A Saudade trouxe a Memória, e ela me senta nesta cadeira e cruza as mãos:
"O que houve?"
"Onde está você?"
"Eu... não sei."
Ela abaixa a cabeça, afim de ver meus olhos.
"Não perguntei onde está o 'nós'. Perguntei onde está 'você'.

Eu... onde estou?
Para onde vou?
O que pretendo?

Também adoraria saber...

A única certeza que tenho é que estou perdida no Passado Minguante.
Na Memória Alternativa"

(Aimee Lee)

Coragem #01

1 comentários
"Você não é fácil!
Acha que pode chegar dessa forma, de mansinho, como quem não quer nada e quando menos espero, assim como a Saudade, dá o bote!
Dá uma pancada no cocoruto e quando dou por mim estou no chão.
Completamente destruída, machucada, acorrentada, desolada.
Ao longe você se afasta, rindo da minha desgraça, de todos os machucados que obtive quando você me atacou.

Tentando abrandar minhas lágrimas, vejo que outro vem ao longe. Seus olhares se cruzam e mesmo longe, vejo o desprezo transpassando como um pequeno raio tênue. Seus olhos demonstram tudo, mas vocês seguem seus caminhos.

- Não ouse se aproximar!, diz o primeiro. - Ela deve ficar um pouco aí e pensar no que fez! A boba.
- Já se machucou o bastante, diz a segunda. - Merece um pouco de primeiros socorros.
- Você que sabe. - o primeiro dá de ombros. - Ainda acho que deveria...
- Escuta, você não estava de saída? - interrompe. A contragosto, o primeiro diz que sim. - Ótimo, agora saia daqui!

Verifico o sangue que ainda escorre de meus braços. O vento sopra traiçoeiro, cheio de farpas, poeira, folhas - arde. Volto a chorar.
Ela se abaixa delicadamente e segura meu pior machucado, sorrindo simpática. Diz que tudo vai ficar bem e com um breve passar de mãos, o machucado vai se fechando. Ainda dói e muito.

- Eu sei que dói, explica. - Infelizmente essa dor eu não posso curar. Só você pode.
- Não acho que consi-
- Não ouse terminar a frase, senão eu saio daqui e você nunca mais irá me ver!
- Não, por favor, fique!
- Muito bom.

Ela cura meus outros machucados e me ajuda a levantar. Mal consigo firmar meus pés no chão, porque eles também estão machucados, doendo. Ela não desiste. Ao conseguir me manter em pé, sorri e dá as costas.

- Para onde vai?
- Embora. - diz casualmente. - O que quer mais?
- Bom, seria bacana se me ajudasse a andar até aquela árvore, sabe, - aponto - apesar do vento, está calor!
Ela ri.
- Não, não. - cruza os braços e se aproxima de mim. - Vá sozinha. Vire-se.
- Como?
- Você consegue. Chegou até aqui e caiu. Te ajudei a levantar. Mas não dependa de mim sempre que cair. Aprenda a levantar sozinha.
- Mas estou machucada!
- Não, não, você não está machucada. Está Preguiçosa. Além do quê, a árvore não está tão longe. Um passo de cada vez, é só o que precisa. Adeus. - e desaparece em um passe mágico.

Sacana!, penso comigo. É, agora estava realmente sozinha.

Bem, o Primeiro estava ao longe, os braços cruzados, um breve sorriso nos lábios. Poderia ler seus olhos mesmo de tão distante, "Tente, boboca! Tente e quando você cair, vai se machucar tão ou mais feio que antes e eu vou rir a eternidade!".

Brevemente a Teimosia e a Raiva transpassam em minha mente e quanto mais pensava nelas, mais o Primeiro ria. Sua risada era medonha, sarcástica, me dava uma bela pontada de medo.

Estiquei o pé direito devagar e me assustei com a firmeza que ele tinha; era muito mais forte do que antes.
Depois o esquerdo, também firme.
Estiquei as mãos, a ponto de ver os hematomas latejando com força. Fechei as mãos.
Elas estavam ótimas.
Meus pés estavam ótimos.
Eu iria chegar àquela árvore, custe o que custar!

Um passo de cada vez...

O Primeiro não conseguia acreditar no que estava vendo! Eu estava andando, cambaleando, morrendo de dor, mas lá estava eu - andando. Estava tão impressionado, tão pasmo, que sua boca apenas abriu e continuou aberta, a cabeça balançando devagar para os lados.

Ao chegar na árvore, minhas pernas fraquejaram e caí. Isso deu-lhe um pequeno sorriso aos lábios e a mim, um novo começo de dor.
De repente, tudo havia voltado e parecia doer duas, três, vinte vezes mais.
Lágrimas quentes vieram aos meus olhos e mordi os lábios. Não cogitava pedir ajuda ao Primeiro, e ela disse que não viria mais me ajudar.
Tinha de resolver sozinha!

Demorou bastante até que eu tivesse a incrível idéia de me virar e levantar segurando o tronco daquela árvore gigantesca.
Não estava acreditando: estava mesmo me levantando e melhor, sozinha!
Com dor, com os machucados latejando, com lágrimas nos olhos - mas levantando.
De repente assaltou-me a idéia, a brilhante e idiota idéia, de que ninguém viria ao meu auxílio se eu apenas chorasse.
O Primeiro, além de rir, iria espancar-me, machucar-me, iria me chamar de boba novamente.
E ela... ela deixou bem claro que não iria mais voltar. Eu deveria me virar e era isso que estava fazendo. Me virando.

Assim que me coloquei de pé, mesmo trêmula, constatei que mais a frente havia mais de cem árvores, elas se perdiam em meu campo de visão.
E cada uma delas continha o essencial para mim.
A mais próxima continha água; a outra, um casaco, pois era frio ao anoitecer;
Todas elas continham doses de Amor, Compaixão, Amizade, Paz, Felicidade.
Era quase como em um joguinho.

Continue a ficar boquiaberto, Senhor Covarde.
A Srta. Coragem me ensinou a levantar sozinha.
E me ensinou a seguir em frente, sem olhar para trás.

Pode ficar com essa cara de tacho, Senhor Covarde.
Sempre que cair, vou me lembrar de não pedir sua ajuda.
Sempre que cair, vou me lembrar que a Srta. Coragem disse que não virá mais ao meu auxílio.
Porque preciso me levantar sozinha, sem a ajuda de ninguém.

Caí da bicicleta.
Mas agora tiro as rodinhas e não desisto de aprender."

(Aimee Lee)

Indecisão #01

1 comentários
"Diga que me amas.

Diga que ama meus traços, minhas linhas.
Diga que ama minha gentileza, minha boa vontade.
Diga que ama minha alegria, minha sinceridade.
Diga que ama minha capacidade de ser boa sem retribuições.
Diga que me ama do jeito que sou.

Diga que me odeia.

Diga que odeia minha indecisão.
Diga que odeia minha covardia.
Diga que odeia minha imaturidade.
Diga que odeia minha bipolaridade.
Diga que odeia minha sensibilidade exarcebada.
Diga que odeia minha teimosia e minha incapacidade de aceitação.

Diga... não diga.

Deixe o meio termo.

Mas espere!
Não será bom.

A indecisão me consumirá aos poucos, como a chama na madeira.

Não diga mais nada.
Demonstre.
As palavras podem ser muito duras, demonstre.

Meu coração por ti implora: demonstre!
Não seja tão maldoso a ponto de achar que não mereço.
Demonstre!

Ame-me pelos defeitos, odeie-me pelas qualidades.

Mas goste de mim.
É só o que peço..."

(Aimee Lee)

Saudades #02

1 comentários
"Quando achei que já havia me livrado, eis que você aparece.
Irritante!
Dolorida...
Incrivelmente desapontante.

A pior parte disso tudo é que você chega de mansinho e quando menos espero, dá o bote!
Como uma perfeita cobrinha que és.

Quando percebo, sinto meu coração apertado, dilacerado; meus olhos enchem de lágrimas, me bate um desespero e até que você consiga o que tanto almeja, não me deixará em paz.

Até que acontece. Quando novamente dou por mim, sinto algo molhado rolando por minhas faces e surpreso, avalio aquelas gotas salgadas que insistem em sair de meus olhos.

Por que eu?

Por que logo agora?

Pode durar um dia, uma hora, um ano. Mas até que você vá embora, muito irei sofrer.
Você é traiçoeira; má; ruim.

Sabe que eu não possuo o poder de voltar ao passado mas você sim, e se aproveita como uma criança má, "Sofra, eu posso, você, não! E vou trazer a tona todos os bons momentos para vê-lo sofrer até minguar!"

Procuro preocupado a Coragem e o Auto Controle, que resolveram sair de férias por alguns momentos. Tiro-as do banho de sol no Caribe pessoal e coloco-os para trabalhar.

A batalha demora a cessar.

Enquanto isso, continuo nesse meio.
Sendo a corda que precisa ser puxada para um dos lados.
Sem forças, não consigo resistir.

Saudade de um lado, puxando-me para o Passado Esquecido, desfalecendo nas curvas graciosas do tempo - ou a Coragem, que insiste em me dizer que preciso deixar o Passado por lá, e escrever este novo dia, para que seja uma ótima lembrança no futuro?

Seja qual for.
Quem me conseguir, me terá a seu dispor."

(Aimee Lee)

"Pequenas Epifanias" - #01

0 comentários
Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…

Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.

Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?

Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?

Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.

. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.

(Caio Fernando de Abreu - "Pequenas Epifanias")

Saudades

0 comentários
"Hoje acordei com uma vontade imensa de te ver. De sentir seu abraço, seu olhar, seu sorriso.
De me sentir bem comigo mesma, de me sentir importante para alguém. De você.


Quando nos encontramos, sinto meu coração bater, bem baixinho, um ritmo compassado de bateria de escola de samba em pleno Carnaval, ansioso por entrar na Marquês da Sapucaí. Mas bem baixo. Ou pelo menos tento fazê-lo baixo.

Ao te ver, é como se voltasse a suar a imensidão do mar e quando você me sorri, sinto as bochechas queimando de um dia de verão.

Quando você me abraça, sinto um arrepio tão grande como quando conquistaram o Pólo Norte. Nunca estive lá. Mas a sensação deve ser a mesma.

Quando abre sua boca para falar qualquer coisa, o resto do mundo se cala e só tenho sentidos para você. Mesmo que seja a piada mais cretina, a cantada mais doce, continua sendo encantador vindo de você.

Não peço muito, peço? Querer você ao meu lado, ouvir de suas estórias, compartilhar das minhas e rir, chorar o que for preciso, mas saber que você estará lá para dividir tudo isso me provoca um breve sorriso.

Em meus breves sonhos, voltamos àquele dia incrível, onde o céu estrelado era o teto de nossa conversa sem rumo. Com os dedos, traçávamos e ligávamos as estrelas, tentando entender coisas da vida que nem o céu poderia explicar. Sentia-me como em um sonho, mas estava acordada; você me contava sobre sua semana, eu sobre a minha, até que abandonamos o vício do cotidiano por alguns momentos e o céu novamente voltou a ser o centro das atenções.

Acordei pensando em você. Em como você me faz sentir bem comigo mesma, sentir o que há tempos achava que não sentia; de me sentir protegida, amada e querida. De me sentir sendo "eu".

Acordei pensando em você... quero te ver.

É pedir muito?"

Aimee Lee

Música do Dia

0 comentários
Boa Terça Feira!

Razão

0 comentários
Me pergunto se as coisas acontecem por acaso.
Se os sentimentos são por acaso.
Se a vida é por acaso.

Por que as pessoas não se aprofundam em seus próprios sentimentos para encontrarem seu verdadeiro "eu"? Ter apenas a solução é mais fácil do que achar o motivo.

O tempo muda, as pessoas mudam. Seu coração muda? Sua personalidade muda com as influências externas ou com as influências internas? Quem é você? O que deseja para sua vida? Qual sua meta nessa vida? Como se vê daqui a cinco anos?

Você sabe expor seus sentimentos? Você sabe aplicá-las? Não precisa dizer "eu gosto de você", não precisa abraçar. O coração sabe quando alguém gosta de você pelo que é e não pelo que aparenta ser.

Por que colocar essa máscara da teimosia e por que sempre concordar em se afastar de si mesmo? Você se sente feliz? Conte-me. Também quero aprender a ser feliz fingindo ser quem não sou.

Por que dizer que está bem quando não está? O que te impede de gritar? De sentir? De exteriorizar?

O que te impede de dizer ao mundo quem é você? Quais são seus medos? Quais são seus defeitos?

Ninguém é perfeito. Eu não sou, você não é. Por que fingir que é? Por que fingir que ama? Por que falar da boca para fora?

Por que dizer o que não quer? O mundo lá fora é cruel, mas nenhum julgamento é pior do que o próprio. Seu coração te julga por todas as coisas feitas e não feitas, ditas ou não ditas.

Conte-me, seu coração está saudável?
Conte-me, você sorri de forma verdadeira?
Conte-me, o que se passa de verdade no seu coração?

Quando cairá na real de que a vida não é um script e que ninguém o amará para sempre? Que as pessoas são renováveis, mas não os sentimentos?

Quando você finalmente deixará meu coração dormir em paz, sabendo que você realmente está feliz? Quando você me deixará dormir?

Quando você deixará de fazer de tolo àqueles que banalizam o sentimento mais puro da humanidade? Quando você deixará de acreditar que todos caem nessa piada?

A mim você não engana.

Há coisas nessa vida que nenhum cientista maluco explica.
Há coisas nessa vida que talvez nem o inexplicável explique.
Há coisas nessa vida que vão muito além de nossa imaginação.

Além...

Prometa-me que vai sorrir com o coração, e não com a boca.

Primeiro Post

0 comentários
Olá, bom dia!

Criei esse blog com o intuito de dividir um pouco as coisas que escrevo e sinto. Não são grandes escritos mas para mim fazem diferença. Espero que para você também! (:

Aimee Lee não é meu verdadeiro nome; apenas sinto-me a vontade em escrever usando este pseudônimo. Algumas pessoas devem me conhecer e ao meu pseudônimo e àqueles que o sabem, peço que não o divulguem.

Pode usar os textos, compartilhar. Mas por favor, credite os mesmos, ok?

Tenham uma ótima semana!

Aimee Lee