Sobre a Depressão

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Diante dos últimos acontecimentos, resolvi tirar do papel a ideia de falar sobre a Depressão. Estou tomando isso como um jeito meu de admitir que tenho, porque é fato de que eu falo "ah, tenho depressão" mas nunca botei na minha cabeça que, de fato, preciso conviver.
Talvez algumas coisas você já saiba; outras, espero poder te ajudar a esclarecer. Não é tão simples como parece, então tentarei ser bem clara.

- Pra começo de conversa, Depressão não é "frescura", "coisa de rico", "coisa de gente metidinha a americana". Não sei bem se é considerado como doença, mas não é bobagem. É sério.

- Ao que sei, Depressão não tem cura. É como por exemplo ter convulsões: você pode controlar por meio de medicamentos, mas não é algo que amanhã estará 100% curado. Um dia sem o medicamento pode ser um inferno. Então é sempre bom seguir a risca a prescrição médica.

- TER DEPRESSÃO NÃO TE JULGA COMO LOUCO! As pessoas têm a mania de dizer que depressivo é louco, é maníaco e o caramba. Gente, depressão não é contagioso, não é algo que te faz ir pro hospício (ok, até pode ser, a depender do teu grau, mas no geral, acredito que não). Ir no psiquiatra não te faz ser um doido, médico de pinel. Ele é o profissional qualificado pra te ajudar, então se você precisar dele, procure-o.

- Existe uma grande diferença entre ESTAR TRISTE e DEPRESSÃO. Estar tristonho, pra baixo, é algo passageiro, hoje você tá triste, mas amanhã ou depois de amanhã, vai estar legal. A Depressão é um sentimento bem mais forte, bem mais profundo, que dura de semana a meses. Aquela velha corrente de Facebook é válida, "antes de ser diagnosticado com depressão, verifique se você não está rodeado de babacas".

- Não é porque tomamos medicamentos que vamos estar felizes e tranquilos pra sempre. Nós temos crises. Há as crises mais brandas, que vão desde sentir-se sem ânimo e pra baixo mesmo, até as mais severas, onde pode ocorrer o suicídio.

- Não adianta dizer que não: todo diagnosticado com depressão tem pensamentos suicidas. Nem que seja ao menos uma vez, em um momento de crise, ou todos os dias, sempre está lá. Não significa que você é um pirado. Significa que você está fora de si.

- Pelo amor de Deus, PAREM com essa ideia idiota de que Depressivos são egoístas e que olham pro próprio umbigo. Nós não estamos tentando chamar atenção, pelo contrário.Queremos que nos escutem, que nos apoiem, que nos cuidem, porque não estamos legal. Sabemos MUITO BEM que, se é pra chamar a atenção, é só pendurar uma melancia na cabeça e sair por aí dançando lambada com uma arvore.

- Quando em crise, precisamos MUITO de um abraço amigo, um carinho doce. Não é "ah, ela quer ser mimada", longe disso. Precisamos nos sentir protegidos ao menos um pouco, pra não tomar decisões precipitadas. Você não precisa entender nossos motivos pra nos ajudar; basta nos mostrar amizade.

- Você reconhece que uma pessoa tá em crise quando ela não fala, não tem emoções estampadas no rosto, não têm ânimo pra nada, tudo funciona no robótico e as respostas são monossilábicas. A pessoa fica tão quieta, mas tão quieta, que você até esquece da presença dela. Ela não quer comer, porque não sente fome; não bebe água porque não sente sede; seus olhos estão cada vez mais fechados, como sentisse sono e, se tiver a oportunidade, ela vai dormir e esquecer da vida. Não há palhaço que anime, não há ídolo que brote na frente e diga 'olá', nada vai funcionar. Nesses momentos a gente só quer ficar quietinho, sem perturbações, sem que fiquem nos entupindo de perguntas. Até porque não temos forças pra argumentar.

- Na crise, temos a sensação de que tudo se move numa velocidade mais lerda que a de Matrix; os barulhos são ecos ao longe, você fica perdido, sem saber onde está ou quem é, a visão fica menor. Por isso é sempre interessante ter no bolso uma forma de identificação. Há casos de pessoas que desmaiam, e nunca se sabe quando pode acontecer.

- Até poderia dizer que 'há um lado bom' na depressão, que é emagrecer muito rápido em pouco tempo. Mas não é bom porque você emagrece muito, perde imunidade, e vai definhando.

- Não é coisa da nossa cabeça ter depressão. Não é algo que você acorda um dia dizendo "hoje terei depressão". O que mais me irrita nesse pessoal que nada sabe é que julgam que depressão é passageiro. Repito a primeira frase porque é muito chato você ter que ouvir de pessoas do teu convívio que depressão é bobagem, que é falta de vitamina, falta de sexo ou o caramba. Se fosse fácil, eu não conviveria com 'dias de luta, dias de glória'. Não desejo depressão pra minha pior inimiga.

- Cada pessoa tem sua maneira de extravasar o sentimento. Descobri a minha ao acampar pela primeira vez. E, depois que li alguns relatos de pessoas que procuram a natureza pra se recompor, sugiro mesmo que a procurem. Não há nada mais incrível pra mim do que sentir o cheiro do mato, o barulho dos bichos, da água...

- A você que tem depressão, resista ao ímpeto de meter a mão na cara de quem diz que depressão é falta de viver. Há pessoas que vivem bastante e têm depressão.

- Nossas atitudes são relacionadas quase que diretamente ao nosso sentimento atual. Se me sinto totalmente sem chão, sem rumo, não me aguento mesmo, que a minha depressão atingiu um nível tal, é capaz de cometer um suicídio. Vai ser sempre a primeira ideia, não tenha dúvidas. Se uma pessoa se mata por causa de uma discussão, sendo ela depressiva, não banque o 'a culpa foi dela que quis aparecer/não soube lidar', porque a culpa é sua também, por não ter dado apoio e suporte quando poderia. Foi como falei, depressão é controlável, é tudo questão de ter tato. Não é mimar, é saber lidar.

- Muitos famosos têm depressão. Uma coisa que temos em comum é que sabemos mascarar MUITO BEM quando podemos. Ninguém diz, por exemplo, que Jim Carey tem depressão. É, Jim Carey, você sabia? Não é ser falso. É tentar lidar. Porque a sociedade colocou esse maldito estereótipo e a gente precisa viver.

Ah, sei lá.

[Resenha] "Depois de Auschwitz" - Eva Schloss

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Se tem uma parte da história mundial que me encuca e interessa, é a Segunda Guerra Mundial. Não sei por quê, mas me fascina ler os relatos. E óbvio, uma das figuras mais famosas (se não a mais) dessa Guerra é Anne Frank.
Nada tenho contra ela, inclusive curto o livro e tal, mas formou—se um laço que, todo mundo quê resolve escrever sobre a Guerra, está tentando "alcançar sucesso pelos restos de Anne". E é o que rola nesse livro.

Eva foi só colega de prédio de Anne, e de turma também. Mas a chamada do livro diz que é o "relato da irmã de Anne que sobreviveu". 
Me dá uma raiva dessas coisas! Eva deixou muito claro em "Depois de Auschwitz" que não tinha pretensão alguma de vincular sua vida com a da amiga. Sim, elas se conheceram, foram amigas e o pai de Anne casou—se com sua mãe, ela.ainda hoje cuida dos interesses do museu da irmã póstuma. Fim. O livro conta as memórias de Eva quanto a uma das piores formas de destruir o ser humano. Não é um livro sobre Anne e sim sobre ela, Eva.

Bom, mimimi a parte, o livro surpreendeu pela riqueza dos detalhes e pela abordagem familiar. Às vezes me via pensando que era um conto fictício, mas então vinha o balde de água fria. É o tipo de coisa que faz você refletir, no final. O Nazismo ainda existe, e não só são considerados nazistas aqueles que batem no peito pra proclamar que é. Julgo nazista todo babaca idiota preconceituoso, com religião, cor, status, preferência sexual... E Eva é categórica ao conectar passado e presente de forma direta porém sem assustar.
A perda do pai e do irmão, dos amigos, a teimosia juvenil, os problemas de ter a adolescência sendo arrancada por causa de um idiota que dizia "revolucionar o mundo" com suas atrocidades.... tudo relatado minuciosamente por uma senhorinha de oitenta, noventa anos, de forma avassaladora pra quem tem coração fraco.

Vale muito a pena ler. 


É modinha gostar depois que faleceu?

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O aniversário da Lisa está chegando e me faz ficar pensando, sabe. Não é sobre "por que ela morreu?" ou "ah, meu Deus, tão jovem!"... é mais sobre essa palhaçada que inventam sobre "ah, morreu e agora todo mundo gosta, admira...".

Assim, eu não tenho nada contra gostar depois de que o artista tenha falecido, sério mesmo. O que me irrita são aqueles que colocam uma banca gigantesca de que gostam do cara, mas até então era um 'criminoso, babaca, idiota, drogado', como fizeram com o Chorão, do Charlie Brown Jr.

Comento isso por mim. Quando eu era mais nova, era da fase Spice Girls, Backstreet Boys e tal, e curtia o TLC e a Aaliyah, apesar de serem totalmente underrated naquela época (até porque nunca curti Destiny's Child e se curtia duas músicas, era muito rs). Quando a Aaliyah faleceu e, alguns poucos meses depois, a Lisa se foi, ficou aquela sensação de perda, sabe? É e não é como se fosse alguém da família; é como se fosse uma pequena parte sua que se foi. Foi quando, finalmente, começou a veicular notícias e músicas do TLC e da Aaliyah e, de fato, comecei a escutar mais (lembre-se que era metade-final dos anos 90; internet era discada e computador era com monitor preto e branco!). E me tornei, de fato, FÃ. Tanto que todo dia 27 de Maio eu faço um bolinho pra comemorar o nascimento da Lisa. Tosco? Talvez. Mas eu faço, é de mim, coisa minha.

Mas esse não é bem o ponto que quero chegar.

Não acho errado alguém se tornar fã de um falecido após sua morte. O que recrimino são aqueles que adoram esculachar a pessoa antes pra, depois, dizer que era um gênio, que fará falta e todos aqueles bla blas. 

Se tem um causo que me emputece (com o perdão do linguajar, claro) pra cacete (ops!), é o causo do Chorão e do Mandela. Isso falo porque tive o exemplo em casa. Meus pais sempre chamavam Chorão de brigão, de babaca, maconheiro e o cacete a quatro. Tive uma colega de escola, a Roberta, que, onde estava Chorão, estava ela. E, tirando o fato de que ela completa e irrevogavelmente apaixonada pelo cara, as atitudes certas e erradas dele eram pauta de nossos papos e eu ficava encucada, sabe, porque, para mim, Chorão foi um cara inteligentíssimo, talentoso, que, infelizmente, não soube lidar tãao bem com a fama. Convenhamos, a fama é um troço grotesco. Hoje você é in, amanhã você é out. E você que se vire, é uma vida triste. Após sua morte, que foi quando meus pais descobriram que uma música escrita e cantada por ele é feita em várias versões de vários artistas que eles (meus pais) curtem, Chorão de repente tornou-se um gênio. Um "coitado, tão jovem!". Isso me irritou de tal forma que chamei meus pais de hipócritas e bem, seguiu-se uma discussão que decidimos abstrair.
E o causo do Mandela, é claro, que foi muito, muito frustrante. Esse sim foi um cara que merece muito mais do que uma página, ou um parágrafo, em um livro didático, sobre o Apartheid. Os feitos, a ideologia, os percalços desse homem não estão no gibi. E, de repente, sua morte promoveu uma comoção de certa forma mentirosa, porque as pessoas têm mania de ir no Wikipedia (nada contra), ler duas linhas do "fulano foi tal e tal" e achar que está dominando o assunto.

É isso que me emputece. Quando leem duas ou três linhas, acham que sabem de tudo e pronto, ok, vamos lamentar a morte. 


Não acho que seja errado tornar-se fã após a morte. Mas existe a diferente entre 'virar fã' e 'ah, sou fã', da mesma forma que existe a palhaçada de 'ai, sou mais fã que você porque sei a cor da cueca do fulano'. Como estava conversando com meu namorado há pouco, acredito que é uma forma de manter a memória daquela pessoa viva. Se pararmos pra pensar, essas passagens para o plano espiritual são feitas em momentos certos. Não vou falar de Deus e destino e o cacete (ops!) porque não é o caso e nem acho válido, mas são fatalidades. Geralmente ocorrem no auge de um sucesso, no caso dos novos, outras, de velhice, como Gandhi e Mandela. São pessoas que tiveram sua missão concluída nesse momento da História, que deixaram seu legado. Se é legal curtir? Putz, claro que é! Mas acredito que todos merecem uma chance de permanecer no plano terrestre, mesmo mortos. Se você analisar bem, quantos pronunciam os dizeres de Clarice Lispector, Machado de Assis, Gandhi, Chorão... Renato Russo!? E isso vai seguir em frente, porque eles deixaram seu legado, vieram e fizeram o que tinha que ser feito.

Então assim, não acho que seja um erro curtir depois que faleceu, mas se o fizer, não seja babaca. Considero respeito. Porque você acaba levando o conhecimento dele adiante, você não esquece e toma as palavras deste como motivação pra momentos difíceis ou ate mesmo bons. É uma forma de manter a memória dele/a vivo/a, entrando no conceito de vida após a morte.

Bem, foi mesmo um post pra tirar a poeira rs Espero voltar mais vezes pra cá ^^

E obrigadona ao meu maravilhoso namorado, Marcelo, por ter me deixado filosófica hehehe