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"O tic-tac do meu relógio me faz despertar. Lentamente, sem abrir os olhos, tento dar-me conta de onde raios estou. Meu corpo parece ter percorrido quilômetros, o travesseiro descansa meus olhos inchados e meus neurônios dilacerados. Meu corpo continua em repouso, e a cada movimento, sinto dor, como se qualquer movimento que fizesse ocasionasse a perda de um membro - portanto fico quieta, de lado, olhando para a parede, tentando voltar ao sono.
Mas ainda com a pergunta pairando no ar: O que aconteceu?

Escuto uma movimentação de porta abrindo lentamente mas não a escuto fechar; é como se apenas a encostassem. Sinto uma mão em meu ombro e devagar, viro-me para o outro lado. Seus olhos são esverdeados, seus cabelos, curtos e castanhos; és baixa e sua pele, alva. Seus lábios curtos sorriem de soslaio em seu rosto meio triangular.
- Está bem?
Sem forças para responder, confirmo de leve com a cabeça mas ainda me sinto estranha. Como se fosse intimidada.
- É uma pena, - suspira. - acho que minha dose foi muito fraca.
De seu sorriso confortador sai um sorriso presunçoso e então dou-me conta de quem é aquela pessoa.
- Demorou para me reconhecer? - ri irônica. - Não se preocupe, tomarei mais cuidado para que da próxima, você não reconheça mais ninguém... e que ninguém mais a reconheça!
- Sai daqui! - grito com um fio de voz, aterrorizada com a visita inesperada. Mas meu pavor é tanto que não consigo chamar enfermaria ou médicos. - Sai!
- O que acontece? - a porta novamente se abre e dessa vez, entra um homem relativamente alto, sua pele, morena. Seus olhos castanhos e seus cabelos curtos também me assustam. - Ah, olá! - sorri para mim. - O que está fazendo acordada e aqui? Achei que fosse apenas te encontrar em uma casa de repouso para loucos!
Ele e a moça de olhos claros desatam a rir.
Trêmula, só consigo me recostar na cama, aflita.
- Estava justamente contando a ela que acho que ainda fui muito boazinha. Devia ter exagerado mais, sentido mais a adrenalina! - conta com fervor. - Mas há sempre uma próxima vez, não é, meu amor?
- Eu vou sair daqui! E vocês nunca mais vão interferir na minha vida, nunca mais!
- Claro que não vamos mais interferir na sua vida... porque vamos detonar com ela antes que você pense nisso novamente!

As lágrimas insistem em cair de meus olhos inchados e doloridos, enquanto ambos continuam falando, mostrando como tudo será maravilhoso quando eu sumir de vez.
Meu coração bate tão forte que não encontro mais forças, e suas vozes vão ficando cada vez mais abafadas por conta do barulho.
Sinto meus olhos fechando lentamente. O que eu faço...

(continua)

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Priscila (Pryh) Santos disse...

essas linhas finais me deram aquela sensação de "se afogando em águas negras"
Aimee o que escrevemos de um forma ou de outra reflete um pouco do que passamos, então, por um lado, mais uma vez, fiquei boquiaberta com seu jeito de personificar sentimentos, que tenho que dizer, é muito bom mesmo, não só nesse texto mas nos outros também, já por outro um pouco preocupada com minha unnie, do que se estaria sentindo naquele momento.
Espero que esteja melhor, e continue escrevendo, mesmo que só pra desabar.

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