Coragem #01

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"Você não é fácil!
Acha que pode chegar dessa forma, de mansinho, como quem não quer nada e quando menos espero, assim como a Saudade, dá o bote!
Dá uma pancada no cocoruto e quando dou por mim estou no chão.
Completamente destruída, machucada, acorrentada, desolada.
Ao longe você se afasta, rindo da minha desgraça, de todos os machucados que obtive quando você me atacou.

Tentando abrandar minhas lágrimas, vejo que outro vem ao longe. Seus olhares se cruzam e mesmo longe, vejo o desprezo transpassando como um pequeno raio tênue. Seus olhos demonstram tudo, mas vocês seguem seus caminhos.

- Não ouse se aproximar!, diz o primeiro. - Ela deve ficar um pouco aí e pensar no que fez! A boba.
- Já se machucou o bastante, diz a segunda. - Merece um pouco de primeiros socorros.
- Você que sabe. - o primeiro dá de ombros. - Ainda acho que deveria...
- Escuta, você não estava de saída? - interrompe. A contragosto, o primeiro diz que sim. - Ótimo, agora saia daqui!

Verifico o sangue que ainda escorre de meus braços. O vento sopra traiçoeiro, cheio de farpas, poeira, folhas - arde. Volto a chorar.
Ela se abaixa delicadamente e segura meu pior machucado, sorrindo simpática. Diz que tudo vai ficar bem e com um breve passar de mãos, o machucado vai se fechando. Ainda dói e muito.

- Eu sei que dói, explica. - Infelizmente essa dor eu não posso curar. Só você pode.
- Não acho que consi-
- Não ouse terminar a frase, senão eu saio daqui e você nunca mais irá me ver!
- Não, por favor, fique!
- Muito bom.

Ela cura meus outros machucados e me ajuda a levantar. Mal consigo firmar meus pés no chão, porque eles também estão machucados, doendo. Ela não desiste. Ao conseguir me manter em pé, sorri e dá as costas.

- Para onde vai?
- Embora. - diz casualmente. - O que quer mais?
- Bom, seria bacana se me ajudasse a andar até aquela árvore, sabe, - aponto - apesar do vento, está calor!
Ela ri.
- Não, não. - cruza os braços e se aproxima de mim. - Vá sozinha. Vire-se.
- Como?
- Você consegue. Chegou até aqui e caiu. Te ajudei a levantar. Mas não dependa de mim sempre que cair. Aprenda a levantar sozinha.
- Mas estou machucada!
- Não, não, você não está machucada. Está Preguiçosa. Além do quê, a árvore não está tão longe. Um passo de cada vez, é só o que precisa. Adeus. - e desaparece em um passe mágico.

Sacana!, penso comigo. É, agora estava realmente sozinha.

Bem, o Primeiro estava ao longe, os braços cruzados, um breve sorriso nos lábios. Poderia ler seus olhos mesmo de tão distante, "Tente, boboca! Tente e quando você cair, vai se machucar tão ou mais feio que antes e eu vou rir a eternidade!".

Brevemente a Teimosia e a Raiva transpassam em minha mente e quanto mais pensava nelas, mais o Primeiro ria. Sua risada era medonha, sarcástica, me dava uma bela pontada de medo.

Estiquei o pé direito devagar e me assustei com a firmeza que ele tinha; era muito mais forte do que antes.
Depois o esquerdo, também firme.
Estiquei as mãos, a ponto de ver os hematomas latejando com força. Fechei as mãos.
Elas estavam ótimas.
Meus pés estavam ótimos.
Eu iria chegar àquela árvore, custe o que custar!

Um passo de cada vez...

O Primeiro não conseguia acreditar no que estava vendo! Eu estava andando, cambaleando, morrendo de dor, mas lá estava eu - andando. Estava tão impressionado, tão pasmo, que sua boca apenas abriu e continuou aberta, a cabeça balançando devagar para os lados.

Ao chegar na árvore, minhas pernas fraquejaram e caí. Isso deu-lhe um pequeno sorriso aos lábios e a mim, um novo começo de dor.
De repente, tudo havia voltado e parecia doer duas, três, vinte vezes mais.
Lágrimas quentes vieram aos meus olhos e mordi os lábios. Não cogitava pedir ajuda ao Primeiro, e ela disse que não viria mais me ajudar.
Tinha de resolver sozinha!

Demorou bastante até que eu tivesse a incrível idéia de me virar e levantar segurando o tronco daquela árvore gigantesca.
Não estava acreditando: estava mesmo me levantando e melhor, sozinha!
Com dor, com os machucados latejando, com lágrimas nos olhos - mas levantando.
De repente assaltou-me a idéia, a brilhante e idiota idéia, de que ninguém viria ao meu auxílio se eu apenas chorasse.
O Primeiro, além de rir, iria espancar-me, machucar-me, iria me chamar de boba novamente.
E ela... ela deixou bem claro que não iria mais voltar. Eu deveria me virar e era isso que estava fazendo. Me virando.

Assim que me coloquei de pé, mesmo trêmula, constatei que mais a frente havia mais de cem árvores, elas se perdiam em meu campo de visão.
E cada uma delas continha o essencial para mim.
A mais próxima continha água; a outra, um casaco, pois era frio ao anoitecer;
Todas elas continham doses de Amor, Compaixão, Amizade, Paz, Felicidade.
Era quase como em um joguinho.

Continue a ficar boquiaberto, Senhor Covarde.
A Srta. Coragem me ensinou a levantar sozinha.
E me ensinou a seguir em frente, sem olhar para trás.

Pode ficar com essa cara de tacho, Senhor Covarde.
Sempre que cair, vou me lembrar de não pedir sua ajuda.
Sempre que cair, vou me lembrar que a Srta. Coragem disse que não virá mais ao meu auxílio.
Porque preciso me levantar sozinha, sem a ajuda de ninguém.

Caí da bicicleta.
Mas agora tiro as rodinhas e não desisto de aprender."

(Aimee Lee)

1 comentários:

Pryh disse...

Olá unnie,
Não a achei o testo emo nem nada disso, assim como o anterior ele me lembrou bastante uma fábula, ficou muito bom!
Tipo um jeito diferente de fazer uma pessoa ver um sentimento, dando personificação a ele. Bem filosófico, mas sem deixar melancólico, o que acaba deixando-o como uma história em que o leitor torce para a personagem se levantar, e fica feliz ao vê-la aprender e conseguir fazer isso.

Só achei o dialogo confuso, o primeiro, só no fim foi intender que quem falava com a Srta. Coragem era o Sr. Covarde.

No mais, gostei de tudo ^^

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